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A mulher na janela: um filme sobre agorafobia


Estudos recentes sugerem que 1/3 da população mundial está sofrendo de algum tipo de transtorno de ansiedade devido à pandemia. Uma escalada significativa para os transtornos de ansiedade, que juntos com a depressão, são considerados o mal do século 21.


O cinema, claro, está refletindo esta realidade. É o caso de A mulher na janela. Anna Fox (Amy Adams) é uma psicóloga especializada em crianças. Vemos em seu cotidiano que passa os dias reclusa em seu enorme apartamento em Nova York, Estados Unidos. Ela sofre de agorafobia. A característica mais marcante no caso dela é a de não sair de casa. Nem para as sessões com seu psicoterapeuta, que a atende em domicílio.


Quem se lembrou do filme de 1954 A Janela indiscreta tem razão. Não é a apenas a palavra janela que se repete nos títulos em português. A mulher na janela faz várias referências ao clássico de Alfred Hitchcock no qual James Stewart era um fotógrafo profissional de Nova York que estava confinado em seu apartamento por causa de uma perna quebrada. A falta do que fazer o leva a vigiar a vida dos vizinhos com um binóculo, e ele acaba suspeitando de que um assassinato havia sido cometido.


Quase 70 anos depois, a releitura do clássico hitchcockiano traz agora como protagonista uma psicóloga, que sofre com um quadro de agorafobia.


Como estamos no século 21, em que a indústria farmacêutica é ainda mais poderosa que nos anos 1950, ela toma medicamentos. Muitos medicamentos. Medicação funciona? Em alguns casos sim, pode ser um recurso útil enquanto se trata o problema por meio da psicoterapia. Mas se a questão não for tratada, o indivíduo pode ficar se medicando por anos e o quadro não melhorar. Pior, nestes casos, é a automedicação. Quando, ao invés de o indivíduo procurar um psiquiatra para receitar uma medicação específica para seu caso, usa uma de alguma outra pessoa. Para piorar, Anna, que sabe que não deve misturar antidepressivos e outros com bebida, abusa consideravelmente de vinho.


Anna aluga o porão a um inquilino, David, que se apresenta como um compositor que eventualmente faz bicos para faturar um extra. Anna não respeita muito o espaço do inquilino, e volta e meia, por medo ou ansiedade, invade o porão.


Sabemos pelas conversas dela que está separada no momento do marido, e que a filha do casal, de 8 anos, vive com o pai. Mas o que ela mais faz é monitorar pela janela o apartamento dos novos vizinhos, que estão bem em frente ao seu. Em dado momento na película, chega a espiá-los com o zoom de uma câmera fotográfica.


Simbolicamente, podemos dizer que como ela não consegue olhar para sua vida, elaborar seus conflitos, ela acaba desviando seu olhar para a vida dos demais. Nem com seu psicoterapeuta ela consegue se abrir: ela reage com raiva quando ele tenta perguntar sobre o que ela vê nos vizinhos. Esta reação raivosa, na verdade, sinaliza que ela está presa, pois não está conseguindo se conectar com suas próprias emoções.


Não por acaso, quando ela dorme e relaxa, brotam imagens do seu inconsciente, que parecem uma espécie de pontos brancos (seriam gotas de chuva?), algo como uma poeira estelar – que vão se revelar significativas ao final da narrativa.


Apesar do ótimo elenco, o filme não é um suspense à altura das películas de Hitchcock, mas vale a pena ser visto para se acompanhar um quadro de agorafobia, como uma das síndromes que impedem a pessoa de vivenciar sua vida de forma plena.


Para não dar spoiler, fechamos dizendo que estes transtornos não surgem de um dia para o outro. Os conflitos não elaborados vão se acumulando. E algum evento, traumático ou não, pode funcionar como um gatilho, como no caso de Anna. Por outro lado, quando um evento externo rompe com a culpa de que ela não havia sido uma esposa e mãe boa o suficiente, ela consegue entrar em contato de forma consciente com as memórias bloqueadas. Aí a vida que estava interrompida pode seguir seu curso.


Não vou resistir a compartilhar minha opinião do filme, com a intenção de saber o que você também pensa dele se o assistir (fica o convite para deixar seu comentário abaixo). Adoro a Amy Adams. Contudo, uma pontinha que a Julianne Moore faz no filme me deixou a pensar como ele seria mais denso se ela fosse a protagonista que fica se arrastando de camisolão naquele apartamento de estilo vitoriano enorme e bagunçado. Mas deixemos esta análise fílmica para outro momento.


Dra. Monica Martinez

19 de julho de 2021


Serviço

Título original: The Woman in the window

Ano produção: 2021

Direção: Joe Wright

Duração: 101 minutos

Elenco: Amy Adams, Anthony Mackie, Wyatt Russell

Gênero: Suspense

Disponível: Netflix

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