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A Afrodite em você


Afrodite é aquele aspecto da psique que está relacionado à alegria e ao bom viver. Como diriam em francês, à joie de vivre.


Não está necessariamente ligado ao dinheiro, mas a uma certa maneira de desfrutar a vida conforme ela se apresenta, fincando os pés no aqui e no agora com prazer. E, claro, com abertura ao amor. Só que amor numa perspectiva mais ampla, que não se limita à parceria amorosa.


Segundo Junito de Souza Brandão, há vários mitos relacionados a deusa grega, “já que ordenar o amor é uma tarefa extremamente difícil” (BRANDÃO, 2014, p. 25).


O grande casamento da deusa do amor foi com Hefésto, o deus ferreiro coxo.


Mas o leito da bela deusa não ficava vazio quando o marido ia trabalhar nas forjas do Monte Etna, na Sicília. Vamos relembrar uma versão do mito?


Ares, o deus da guerra, o partilhava na ausência de Hefésto. Fazia-o com tranquilidade, porque postava Aléctrion de sentinela na porta. Destes amores, nasceram Fobos (o medo), Deimos (o terror) e, para aliviar um pouco a barra, Harmonia.


Tudo ia bem até que certo dia o vigia dormiu e Hélio, o Sol, que tudo vê, surpreendeu os amantes e avisou o marido de Afrodite, que preparou uma rede mágica e prendeu os amantes no leito. Aí começa aquela negociação entre os deuses para que Hefésto soltasse a esposa.


Do ponto de vista psíquico, essa narrativa mítica, segundo Brandão, aborda um dos temas mais profundos da Psicologia Junguiana: a união dos opostos:


No que tange a preferência da deusa do amor pelo deus da guerra, o que trai uma complexio oppositorum, uma conjugação dos opostos, Hefésto sempre a atribuiu ao fato de ser aleijado e Ares ser belo e de membros perfeitos (...). Claro que o deus das forjas não poderia compreender que Afrodite é antes de tudo uma deusa da vegetação, que precisa ser fecundada, seja qual for a origem da semente e a identidade do fecundador. De outro lado, casamento em que os parceiros buscam apenas compensar-se reciprocamente, procurando no outro o que lhes falta, é união fadada ao fracasso. Nem sempre a coniunctio oppositorum gera a coincidentia oppositorum, a identidade de opostos (BRANDÃO, 2014, p. 26)



Como boa deusa da fecundidade, a Afrodite em nós nos ajuda a fecundar nossos projetos de forma amorosa. Isso porque, num certo sentido, ela simboliza aquele aspecto do amor ligado à materialidade, ao desejo e ao prazer.


Por isso o mito da deusa, ainda hoje, nos fala da alegria de viver e das forças vitais, que está na base da nossa vida como humanos.


Não por acaso, a analista junguiana Jean Shinoda Bolen vai chamá-la de deusa alquímica. Uma categoria à parte devido ao seu poder de transformação, que impele os seres humanos a se apaixonaram e conceberem uma vida nova.


Para saber mais

BRANDÃO, J. DE S. Dicionário Mítico-Etimológico. Rio de Janeiro: Vozes, 2014.

BOLEN, J. B. As deusas e a mulher: nova psicologia das mulheres. 5. ed. São Paulo: Paulus, 1990.

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