Memória em baixa, ansiedade, depressão e estresse pós-traumático em alta: a cauda longa da Covid-19
- Monica Martinez

- 7 de fev. de 2022
- 2 min de leitura

Achei muito relevante este estudo que busca entender o impacto do coronavírus a longo prazo, de 6 a 9 meses após a alta hospitalar, no sistema nervoso central.
Foi o problema inicial da pesquisa que acompanhou 425 pacientes do Hospital das Clínicas de São Paulo internados que se recuperaram de formas moderada e grave da COVID-19.
Os resultados do estudo, publicados na revista científica General Hospital Psychiatry (DAMIANO et al., 2022, veja abaixo), mostram que sintomas depressivos, estados de ansiedade, irritabilidade, fadiga, insônia, dificuldade de memória e concentração no grupo estudado foi maior (32,2%) do que a da população brasileira em geral (26,8%).
O transtorno de ansiedade generalizada, por exemplo, foi consideravelmente maior (14,1%) do que a média dos brasileiros (9,9%). Já a depressão (8%) também é superior à estimada para a população do país (entre 4% e 5%). Do total, 13,6% desenvolveram transtorno de estresse pós-traumático.
Outro resultado aponta que mais da metade (51,1%) dos participantes contou ter tido declínio da memória após a infecção. É como se este sistema cognitivo ficasse mais lento. Segundo o líder do estudo, Rodolfo Damiano, em entrevista para a revista Fapesp, a aplicação de teste que mede a velocidade de processamento revelou que os pacientes de todas as idades demoraram em média duas vezes mais do que o esperado.
A revista General Hospital Psychiatry destaca que se trata do primeiro estudo a capturar o diagnóstico psiquiátrico em um grande número de pacientes pós-COVID usando entrevista clínica.
De acordo com Damiano, um dos principais achados é que nenhuma das alterações observadas se correlaciona com a gravidade do quadro. Também não houve associação com a forma como foram acolhidos no hospital nem com fatores socioeconômicos, como perda de familiares ou prejuízos financeiros durante a pandemia de COVID-19. O que para ele pode sugerir alterações tardias relacionadas à infecção pelo SARS-CoV-2, caso de processos inflamatórios ou danos vasculares.
Enfim, como ainda falta muito para compreender totalmente a doença, o importante para quem já foi afetado por ela, de acordo com o pesquisador, é manter o esquema vacinal em dia e acompanhamento psiquiátrico. Podemos incluir psicológico também. Segundo Damiano, há evidências de que exercícios físicos e a prática de meditação podem ser benéficas. E manter o uso de máscaras e medidas de higiene sempre é recomendado.
Para ler o estudo
DAMIANO, R. F. et al. Post-COVID-19 psychiatric and cognitive morbidity: Preliminary findings from a Brazilian cohort study. General Hospital Psychiatry, v. 75, p. 38–45, mar. 2022.
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