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2/4 - Para viver em paz: a relação



Na tradição cristã, o segundo domingo do advento sugere uma questão vital: a potência transformadora dos relacionamentos.


Para relembrar: no primeiro domingo, segundo a narrativa do evangelista Lucas, Maria recebe a comunicação feita pelo anjo Gabriel de que teria um filho divino. Numa perspectiva psicológica de orientação junguiana, podemos dizer que seu self teria lhe apontado alguma característica com potencial de transformação que estava pronta a emergir, se ela a escutasse e a acolhesse.


Neste segundo momento, a tradição narra que ela foi visitar uma prima com mais idade, Isabel, que estava grávida e, portanto, também passando por este mistério da transformação. As duas conversam num nível muito profundo (veja o trecho abaixo).


O que nos sugere este trecho? Uma possibilidade de leitura seria a de que estes conteúdos emergem de um espaço feito de silêncio e alma, mas que tem mais chances de virem ao mundo concreto se modelados por meio da comunicação, enfim, da interação com outras pessoas. Como fizeram Maria e Isabel.


Maria não escolhe uma pessoa qualquer para visitar. Mas uma pessoa próxima, querida, mais vivida, que também deu espaço à escuta interna para seus próprios processos de transformação -- mesmo que alguns lhe pareçam inesperados como dar à luz à algo novo numa idade mais avançada.


Num certo sentido, podemos ligar esta questão à da relação terapêutica, onde tanto analisanda quanto analista estão engajadas num setting, seguro e acolhedor, onde podem se abrir e interagir. Portanto, a relação em si mesma é este espaço transformador, onde ambas têm o potencial de sair diferentes de quando entraram.


Neste mundo de cavernas digitais que vivemos, como diz o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, da Universidade de Berlim, o encontro verdadeiro é cada vez mais difícil. Mas, por isso mesmo, cada vez mais importante de se abrir para esta possibilidade.


Sempre me lembro da história que ouvi uma vez da Monja Cohen, quando no início de sua formação ela foi para um mosteiro no Japão e achou que tudo seria harmonia. Queremos nos tornar um seixo redondinho, brilhante e bonito. Mas somos pedras brutas, cheias de arestas. Afinal, somos humanas. E é na relação, no contato de pedras, que vamos nos deixando polir e brotar quem somos de verdade. E isto demanda coragem.


Segue o trecho para quem quiser mergulhar na leitura!








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