Há dois pontos culminantes na tradição cristã: um deles é o nascimento de Jesus (o outro ocorre na Páscoa, com sua morte e ressurreição).
Do ponto de vista psicológico, o nascimento fala de se acolher o novo em nós. Neste sentido, o ritual do advento fala de um caminho bem descrito: na primeira semana, a escuta atenta ao que está se querendo manifestar em nós. Na segunda, o deixar brotar e fortalecer este novo em nós por meio do contato com o outro, na relação. Na terceira semana, a importância de se passar a limpo o ano para poder descartar o que já não nos serve mais, incluindo as narrativas que fazemos de nós mesmas e das demais pessoas.
Agora o quarto domingo revela a importância de se acolher o novo da maneira como ele se apresentar. O ego tem um bocado de defesas e restrições para tentar impedir que algum aspecto psicológico se vá e que outro surja seu lugar. E a história do nascimento de Jesus nos fala de um lugar e de um tempo que não eram exatamente os desejados pelo casal, mas que propiciou um nascimento humilde, cercado de afeto e tudo o que era necessário.
Maria e o menino são os protagonistas deste momento, como o são em todos os nascimentos de uma criança de verdade. Mas no âmbito da psicologia analítica junguiana, compensatória, destaca-se aqui a figura do pai. Há poucas referências a José, mas a imagem transmitida é a de um homem modesto, dedicado ao trabalho e à família. De poucas palavras, ele é representado como um ser humano sensível e gentil, que escuta seus sonhos mensageiros, não tem medo de se aventurar no "estrangeiro" se preciso, guiando os aspectos do feminino e da criança com a direção e o suporte necessários para mantê-los vivos.
Que 2023 seja assim: um ano gentil, em que a escuta e as relações nos levem a acolher no presente as mudanças necessárias para sermos a melhor versão de nós mesmas.
Monica Martinez
PS: Meus agradecimentos a Maria Lúcia Andrade, mulher sábia com quem aprendi estas e outras coisas.