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O encontro do ano velho e do novo


Estamos acostumadas com a imagem do Ano Velho encurvado, dando espaço de mansinho para a imagem do Ano Novo, representada por uma criança sorridente de bochechas coradas chegando para ocupar seu espaço.


Há muito tempo, o símbolo desta passagem não era tão "entra-um-e-sai-o-outro" assim. Criança e velho ou sábio não eram ideias separadas, mas uma só. Afinal, o mais velho não havia morrido para ser substituído pelo mais novo. A simbologia, portanto, representava a união do velho com o novo.


Na Grécia, por exemplo, o filho do "ano novo" era Dionísio. Ele teria nascido na época do solstício de inverno, quando a escuridão está diminuindo e os dias se alongando para acolher a primavera.


Quando criança, Dionízio era carregado por Sileno e Hermes, ambos naturalmente mais velhos. Mais tarde Dionísio vai ficar marcado como o 'Deus do vinho e da embriaguez', mas ele é muito mais que isto. Dionísio criança representava uma nova vida, imaginação, impetuosidade, espírito alegre e vivaz.


E o velho que o carregava nos braços representava o Senex, ou seja, o Velho Sábio. Aquele que viveu muito e que conhece a dádiva de uma vida nova, sabendo alertar a frágil criança sobre os lugares de prováveis tropeços e abismos, acalmando-a e protegendo-a.


Em termos psicológicos junguianos e mitológicos, esta parceria simboliza um hierosgamos, isto é, uma união sagrada de dois aspectos da natureza interna que, quando fundidos, criavam um terceiro: uma psique mais consciente e desperta.


Se um fosse separado do outro, a desordem se seguiria. O velho separado do novo pode ser definido pelo arquétipo do velho: um ser ranheta, sem perspectiva, que se acha sempre certo, oprimido pelos outros e opressor, rabugento e sujeito à solidão.


Por outro lado, a sombra do arquétipo da criança é a vida criativa sem a visão de longo prazo, sabedoria e ação, que pode ser fogo de palha, se tornar vacilante, ter medo demasiado de errar e, assim, ficar paralizada diante da Vida.


Por isso é importante resgatar essa noção de Ano Novo como uma época em que as pessoas podem se 'lembrar' conscientemente destes aspectos duais de si mesmas.


Afinal, mesmos nos mais jovens há uma fonte de sabedoria, estranhamente confiável, que se for escutada e posta em prática tende a aumentar com a experiência. E nos com mais idade, uma fonte interna de leveza, riso e de abertura diária para o novo.


Monica Martinez



Agradecimentos: Esta imagem e a releitura da história foram inspiradas no post que a psicóloga junguiana Clarissa Pinkola Estes, 77, publicou em seu Facebook no dia 1 de janeiro de 2023. Vale a pena ler a versão original!

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