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Sashiko: como fazer dos remendos uma arte

Você já ouviu falar do Sashiko? Eu não havia. Trata-se de uma dessas preciosidades japonesas que transformam o comum em arte.


Originariamente, o sashiko era uma forma de remendar as roupas feitas de tecido índigo azul e forte, mas batidas pelo uso por camponeses nos duros tempos antigos da era Edo (1615-1868).


Em geral, os remendos eram feitos no inverno, quando sobrava um tempinho do cultivo e outras atividades do campo.


Com o tempo, o que era costura de reforço ganhou ares decorativos. A peça ganhava muito mais do que força para, digamos, seguir em frente. Ganhava vida nova graças aos delicados pontos feitos em linha de algodão branco que formavam padrões simples e belos.


Os motivos comuns usados eram e são aqueles inspirados na natureza: ondas, montanhas, bambus, ciprestes e diamantes sobrepostos, entre outros.


Me peguei a pensar que é um exemplo bem interessante de arteterapia, onde há uma possibilidade de transformar simbolicamente os sofrimentos, as rupturas, os desgastes causados de forma inexorável pela vida.


E por meio de uma técnica simples, que demanda apenas linha branca e uma agulha, mergulhar no tempo lento da respiração profunda e da consciência do corpo, permitindo os ajustes necessários aos aspectos emocionais e mentais.


Talvez seja este o grande aprendizado que a experiência estética da Arteterapia possibilita. Um caminho transformador que brota do íntimo de cada um, porque nasce da relação com o si-mesmo, também chamado de Self, como diz Waldemar Magaldi (2019).



No melhor estilo junguiano, peguei linha e agulha e fui remendar uma blusa que já estava quase a doar. Ficou, digamos, diferente do original, com a antiga junção feita de renda delicada, porém esgarçada, trocada pelo ponto firme, mas, confesso, irregular.



Acho que a experiência representa bem a técnica. A peça não ficou necessariamente uma obra de arte, mas expressa algo que estava lá sem consciência e uso, num cantinho, talvez a resiliência de todo ser humano tem ao se deixar ser transformado pelo caminho.


Como diz a arteterapeuta Santina Oliveira (2019), uma boa premissa de qualquer técnica neste campo seria a de enveredar pelos caminhos expressivos mais lúdicos, que permitam desenvolver a sensibilidade estética e ética. Tanto em pacientes quanto em terapeutas.


Dra. Monica Martinez


Para ler mais

MAGALDI, W. Arteterapia e expressões criativas. Disponível em: <https://www.ijep.com.br/artigos/show/arteterapia-e-expressoes-criativas>. Acesso em: 9 fev. 2021.

OLIVEIRA, S. R. DE. Arteterapia, como usar? Disponível em: <https://www.ijep.com.br/artigos/show/arteterapia-como-usar>. Acesso em: 9 fev. 2021.

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